O mundo plano

Ciência, política, cinema, economia, poesia... "A Romance of many dimensions"

quarta-feira, março 22, 2006

Inchalá

Deus é um homem senil e de provecta idade que se prosta perante o diabo que entretanto se tornou seu amigo. A virgem Maria escuta a leitura de uma estória obscena enquanto se desenrola uma cena de tensão sexual entre ela e o Diabo. Jesus é retratado como um atrasado mental (ou como agora se diz "pessoa incapacitada") e numa das cenas tenta desesperadamente beijar os seios de sua mãe. Finalmente, Deus, a Virgem e Cristo aplaudem efusivamente o Diabo.

Não, isto não é um repentismo de uma mente maléfica -ou seja, eu- que decidiu extemporaneamente macular toda uma religião ofendendo gratuitamente aqueles que a professam. Nem tão-pouco uma das últimas tentativas de retornar a Artaud ou aos poetas malditos. Nem sequer uma pouco original e redundante iniciativa de duplicação do universo Monteirista (leia-se aquele a quem chamavam César Monteiro, o grande gnóstico da porcalhisse, e não o Manel, o grande prelado da sacanisse).

Isto é a descrição de um filme de Otto Preminger dos idos anos oitenta que nunca chegou a ver a luz do dia dado que foi embargado pelo governo austríaco (aliás, pergunto-me se o César Monteiro não se baseou neste filme maldito para recriá-lo na cena de entrada de A bacia de John Wayne: "je suis le Demon e j’avais des colhons!").

" Eu quero que o Polo Norte se foda!"


Como escrevi em post anterior sobre as caricaturas de Maomé a ofensa só tem eco no espaço simbólico que a entende como ofensa. Para os muçulmanos insinuar que Maomé tinha desejos ou fantasias sexuais seria corriqueiro dado que Maomé não se fazia nunca rogado quando era para afogar o ganso, esconder o salame ou desenferrujar o martelo. Daí que o espaço simbólico onde a explicitação do sexo através do sagrado pode ser considerado uma blasfémia é, por regra, o do cristianismo.

Aliás não foi exactamente sobre isso que César Monteiro lançou o seu olhar escarninho ao criar o João de Deus? O pornógrafo consumado que só pensava em crica? Mas se se aceita que os cristãos fiquem tão incomodados perante insinuações ou explícitas referências sexuais envolvendo os seus símbolos mais sagrados, por que será tão problemático aceitar que os muçulmanos se sintam ofendidos com as representações de Maomé? Liberdade de expressão? Como diria César Monteiro "vamos embora Luciano que já enganámos mais um!".

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