O mundo plano

Ciência, política, cinema, economia, poesia... "A Romance of many dimensions"

segunda-feira, março 20, 2006

Aqui há uns tempos houve um gajo que, não se identificando, decidiu partir-me a marreca atirando-se-me à goela qual lobo esfaimado. E já queriam sangue e mais isto e mais aquilo e já havia gente irada e que assim não podia ser. Na altura apresentei as minhas cordiais desculpas e prometi mais assídua participação. Passado um tempo considerável duma colaboração que considero não despicienda (pra que estás a ser modesto Alexandrino és o único a botar faladura nisto! - obrigado mãezinha.) no mundo tanto plano quanto vazio venho expressar a minha indignação. Toadvia, como sou um cavalheiro das belles lettres optei por uma resposta que, se bem que diferida no tempo, obedece ao cânone poético dos sapateiros e entalhadores. Fiz por isso, e lá saiu - não fosse este o poeta que se afirmou no anedotário nacional com o célebre "há-de sair!" - poema tosco, nem soneto nem ode, muito menos elegia, conquanto convulso, mas sim com certeza, atabalhoado em sua própria natureza. A rima não falha e mesmo a métrica, se por vezes errante e desigual, guarda excelsa melodia que pode ser cantarolada ao correr dos olhos (a quem falte a pena).

Então lá vai

Ao anónimo importunado (incertas variações Bocagianas)

O leitor assíduo do comentário bloguista
Sentiu-se vexado pelo silêncio alheio
Retorquiu em comentário trocista
Que quem vivo se anunciara, já morto veio.

O anónimo, lesto e impertigado
Com o novel comentador exangue
Enviou invectivo recado
P’ra que cedo corresse o sangue

Já se preparava a punção
Da medicina reuniam-se os canhenhos
Clamava-se por extemporânea ablação
Enrugavam-se premeditadamente os senhos

Era tamanha a afronta, a ânsia, o desmando
A desbragada e ominosa frustração
Que foi o escriba no seu trabalho deslustrado
Em tão fera quanto injusta proporção

Oh, mas a vida compõe-se e recompõe-se
De tão surpreendentes quanto lábeis ironias
Em escrevendo torto a verdade impõe-se:
- Do divino se diz e das suas tropelias

E onde ouviste: bebei este é o meu sangue - veja-se!
Devia, caro anónimo, para falar, à prova ter-se posto
Ensinou-nos o peixe, símbolo de martírio e desgosto
Que dos neófitos, é sabido, o sangue não flui - derrama-se

E depois da vil e descortês dissensão posta a nu
E da porfia em comedido tom encerrada
Já nos podemos cumprimentar e quiçá tratar por tu

Dir-lhe-ei como o Char em poesia deleitosa e enfeitiçada
Dans mon pays on ne questione pas en home ému

Então, caro anónimo, não era melhor ir levar onde lhe faz falta?