O mundo plano

Ciência, política, cinema, economia, poesia... "A Romance of many dimensions"

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

(Sub)Humanitas aeternitas


Torna-se no entanto evidente que a sub-humanidade pode constituir razão suficiente para uma união de esforços e para um programa comum. A sub-humanidade é aquela que destruiu os contornos da relação abstracta recuperando uma verdade no próprio seio da violência. Aqui sobreviver é mais que sobrevivência. É mais que manter funcional o aparelho biológico, responder aos desejos -dos mais básicos aos mais complexos- e replicar formas simbólicas de os satisfazer. Aqui sobreviver é uma constante do tornar humano; é a consciência lúcida e feroz de que é necessário um esforço adicional para emergir de um estado irreconhecível. A presença quase que implorativa dos leprosos durante a idade média ao passarem pelas cidades habitadas. Um terreno povoado por monstros que habitam as áreas limítrofes do humano. Não nos surgem como extraterrenas as fotografias de Sebastião Salgado? Que mundo é aquele onde os nossos conceitos e matrizes de vida apenas acedem através do dispositivo estético. Que beleza terrível se esconde por detrás desse espaço do inconfessável que nos parece tão distante de qualquer familiaridade, de qualquer probabilidade de identificação que o aceitamos estarrecidos como produção (e inovação) estética? A sub-humanidade.