A lógica do fantasma
A alegação segundo a qual a separação do ôntico e do ontológico estrutura os debates actuais sobre as potenciais novas formas de organisação social é para ser levada a sério. Um objecto petit a é sempre uma derivação, mas pode ser transformado na “Coisa”. Como? Através de estratégias de criação da imposição hegemónica. É claro que podemos sempre entender o político enquanto decepação dos bracinhos das criancinhas posteriormente empilhados à entrada das aldeias. Mas quanto a mim isto é o resultado de uma interpretação demasiado ortopédica da acção política.
Poder-se-ia acrescentar, que o objecto petit a é, por um erro de paralaxe, uma deslocação de um objecto petit b que imita a Coisa, sendo contudo apenas uma mimetização destorcida do Real conforme este é filtrado pelo espaço que se interpõe entre a própria deslocação e a apropriação negativa do S. Ora isto, parece-nos claro, não é mais do que a negatividade imanente do próprio acto que se esgota no instante ético-político da impossibilidade do reconhecimento do “outro” esvaziando o referencial ético de um exterior que possa ser o locus da identificação dos processos hegemónicos de naturalização. Por conseguinte, ou se joga de acordo com as regras hegemónicas, i.e., ou se constrói uma canoa com os troncos da própria lógica hegemónica, mas que se encontra vedada porque impossível de ser rompida dado que já não existe exterior através do qual o interior possa ser aquilatado – ou se mergulha no nihilismo político advogando que qualquer estratégia ou táctica são inúteis. Ou podemos esperar que Coca-cola nos ajude! Seja como for esta ferida nunca será suturada – e isto é em si mesmo um “acontecimento”.
Foda-se, dêem-nos de comer!
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