O mundo plano

Ciência, política, cinema, economia, poesia... "A Romance of many dimensions"

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Pax Americana


(um comentário rápido, mas com efeitos visuais)

Amigo oneanellus, lamento mas não concordo contigo. O petróleo num mundo de comércio livre não me parece razão para fazer uma guerra desta envergadura. A Arábia Saudita, o Kuwait estão carregados de petróleo e nunca ninguém se lembrou de os atacar (para além de Sadam, claro). A Venezuela, velha reserva norteamericana, deixou de estar nas mãos dos USA e nunca ninguém mostrou ter intenções de lhe declarar guerra. É que a guerra já começou há muito, não havia era formas tão fáceis de a justificar. O Afeganistão está apanhado, o Iraque também, o Paquistão é como se fosse americano – só falta o...Irão.

Havia um tipo no final do século XIX –se não estou em erro – e cujo nome não me recordo que tinha a seguinte teoria: em termos do planisfério havia um eixo principal que permitia dominar o mundo geoestrategicamente ao qual ele chamou o coração da terra. Quem se apropriasse do coração da terra controlava o mundo. Este eixo, na altura, passava pelo que é actualmente a Europa de Leste e traçava sensivelmente uma linha recta entre Londres e Moscovo; para além disso a zona formava praticamente uma helipse, daí o coração. A nova potência que então se anunciava era a Grande Rússia e a potência em termos económicos era a Inglaterra. Não por acaso o corredor polaco era tão apeticível: por Hitler, por Staline e por Churchill.
Agora vê bem o planisfério e para onde se deslocou o novo eixo de poder: Nova Yorque e Pequim (o segundo eixo devia estar um bocado mais para cima). Traça uma linha recta e onde é que encontras a helipse? No Médio Oriente. O Irão é o grande buraco nesta helipse; a zona que falta preencher. Não descuro o factor petróleo, julgo apenas que não é a razão real. A quem é que os Árabes o podem vender se não for à Europa e aos States? Á China e á India. Controlar esta zona quer militarmente quer economicamente faz com que o balanço de poder se mantenha desequilibrado para os Estados Unidos. E isto constitui, em última análise, uma verdadeira estratégia de sobrevivência imperial.

Eu julgo que as pessoas não perceberam o sentido de um email anterior – sou eu que sou marxista até ao fim e acredito que a história se repete. Torna-se portanto necessário compreender-lhe as lógicas.

1 Comments:

  • At 10:45 da manhã, Blogger achasprafogueir@ said…

    Caro Filoxera,

    Mais uma vez, penso que estás a descurar o papel geopolítico que um recurso como o petróleo representa desde o final do séc. XIX, mas principalmente desde a 2ª Guerra Mundial. A Venezuela, desde que governada pelo Hugo Chavez tem sido uma pedra muito incómoda no sapatinho americano. A Arábia Saudita, depois de “colonizada” pelos States e ser outrora considerada como um bom aluno do capitalismo servil, vê-se agora classificada embaraçosamente como o berço do fundamentalismo islâmico máximo, encabeçado pelo Bin Laden, também ele no passado, compincha confiável em prol do controlo das reservas petrolíferas arábicas. Estes dois parceiros são agora um problema na administração americana o que leva estes a procurar novas fontes de negócio e estabilidade do status quo capitalista.
    Quanto à migração do “coração” apenas reflecte este mesmo facto. A Europa, como centro espiritual humanista e económico, há muito iniciou a sua caminhada descendente ao abraçar os conceitos selváticos do lado Oeste do Atlântico. Neste momento, a demografia e a ascensão económica da Índia e China (ainda que alicerçadas em regimes pouco ou nada democráticos e fundamentados na exploração humana), surge como um novo contra poder do Ocidente. Mas estes, sustentados pela avidez de consumo dos seus recursos por parte do mundo “civilizado” que em busca de preços baixos do produto final (calçado, roupa, bens tecnológicos, ...) descuram a estabilidade social, inebriando os consumidores com produtos baratos mas de qualidade duvidosa, conferindo-lhes um sentido de bem estar.
    Daí que o controlo do velho e finito ouro negro, faz ainda mexer todo o xadrez mundial. Caso não saibas, a mesma China e Índia, andam num frenético ritmo de aquisição de participações em diversas empresas de exploração de petróleo, compra de campos, colaboração com países diversos (como por exemplo Angola) para se abastecerem de um recurso que não têm.
    E a História repete-se pois. O mais forte, condiciona, anexa, controla o mais fraco. O patrão oprime o trabalhador, seja ele um pobre trabalhador londrino das fábricas da revolução industrial ou a mão de obra actual, que produz os bens de consumo da sociedade do “1º mundo”.

     

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