Iraque Gate
Sempre me pareceu que os Estados Unidos ao invadirem o Iraque estavam sobretudo interessados em estabelecer uma “praça forte” no Médio Oriente. Desde logo, a deslocação de um impressionante contingente militar após sucessivos bombardeamentos que deixaram em ruínas metade do país não condizia com a estratégia usual de destruição maciça e posterior retirada que assistimos em relação ao mesmo Iraque em 91 ou no Kosovo em 98. É certo que a estratégia anti-terrorista serviu de justificação para a permanência das tropas americanas em território iraquiano. Não obstante, o prorrogar desta permanência anunciava um programa de ocupação territorial e não apenas a típica desmantelação das estruturas de poder com a posterior substituição por um “governo fantoche”. Mas mais do que isso abria uma porta para aquilo que julgo ser um projecto de expansão territorial de cariz imperialista - a seguir vem o Irão.
O que me parece relevante neste caso é que ele decorre directamente da enunciação dos princípios norteadores da guerra preventiva. Segundo estes princípios a possibilidade do armistício, possibilidade decorrente da própria lógica das Nações Unidas, é substituída pela inevitabilidade da guerra. Ao invés do concerto entre as nações para evitar a guerra, esta última é precipitada pelo próprio mecanismo da ameaça. Não é portanto um mecanismo de dissuasão que está aqui posto em prática, é uma fórmula para forçar a guerra. Com efeito, a “nação pária” que se vir acossada reage recorrendo a uma escalada armamentista. O efeito preverso é que a única possibilidade realmente dissuasora é a de obter a bomba – só quando a dita “nação pária” produz a bomba a deflagração da guerra se vê impedida. Veja-se o exemplo da Coreia do Norte. Os EU enceteram a pressão bélica segundo a lógica da guerra preventiva, mas imediatamente recuaram quando a Coreia anunciou que possuia a bomba. Dado que os serviços de espionagem actuais são detentores de uma panóplia de meios profundamente sofisticados, podemos acreditar que não há nenhum bluf neste anúncio e que a Coreia obteve realmente a tecnologia para fabricar a bomba. Sucede que foi justamente isso que evitou a guerra. Esta situação digna do Catch 22 possui igualmente, e diga-se que com alguma ironia, ressonâncias do filme de Kubrick, Dr. Strange Love - ou como me deixei de preocupar e comecei a amar a bomba. A conclusão é: se queremos evitar a eclosão da guerra é bom que comecem a proliferar bombas atómicas.
Por exemplo eu fico muito mais descansado se o Irão tiver uma bomba atómica porque assim sei que os americanos vão pelo menos reconsiderar a intenção –em minha opinião há muito planeada – de o atacar. E por que razão me devo eu preocupar com o Irão se o Paquistão, verdadeira pátria dos taliban, tem a bomba? Durmo por isso mais descansado? Não creio.
O que me parece relevante neste caso é que ele decorre directamente da enunciação dos princípios norteadores da guerra preventiva. Segundo estes princípios a possibilidade do armistício, possibilidade decorrente da própria lógica das Nações Unidas, é substituída pela inevitabilidade da guerra. Ao invés do concerto entre as nações para evitar a guerra, esta última é precipitada pelo próprio mecanismo da ameaça. Não é portanto um mecanismo de dissuasão que está aqui posto em prática, é uma fórmula para forçar a guerra. Com efeito, a “nação pária” que se vir acossada reage recorrendo a uma escalada armamentista. O efeito preverso é que a única possibilidade realmente dissuasora é a de obter a bomba – só quando a dita “nação pária” produz a bomba a deflagração da guerra se vê impedida. Veja-se o exemplo da Coreia do Norte. Os EU enceteram a pressão bélica segundo a lógica da guerra preventiva, mas imediatamente recuaram quando a Coreia anunciou que possuia a bomba. Dado que os serviços de espionagem actuais são detentores de uma panóplia de meios profundamente sofisticados, podemos acreditar que não há nenhum bluf neste anúncio e que a Coreia obteve realmente a tecnologia para fabricar a bomba. Sucede que foi justamente isso que evitou a guerra. Esta situação digna do Catch 22 possui igualmente, e diga-se que com alguma ironia, ressonâncias do filme de Kubrick, Dr. Strange Love - ou como me deixei de preocupar e comecei a amar a bomba. A conclusão é: se queremos evitar a eclosão da guerra é bom que comecem a proliferar bombas atómicas.
Por exemplo eu fico muito mais descansado se o Irão tiver uma bomba atómica porque assim sei que os americanos vão pelo menos reconsiderar a intenção –em minha opinião há muito planeada – de o atacar. E por que razão me devo eu preocupar com o Irão se o Paquistão, verdadeira pátria dos taliban, tem a bomba? Durmo por isso mais descansado? Não creio.
1 Comments:
At 8:18 da tarde, achasprafogueir@ said…
Caro Filixera, a tua análise é interessante se bem que descura o objectivo principal que motivou a invasão do Iraque. Esqueça-se então como principal motivo invocado, o combate ao terrorismo. As razões foram de facto outras. Recorde-se que em 1991, houve um trabalho que ficou inacabado após a 1ª guerra no Iraque, despoletada pela ocupação do Koweit, à época do George Bush pai. Lembremos ainda os resultados dessa acção militar motivada também pela mesma razaão... a saber o controlo dos reservatórios petrolíferos do subsolo iraquiano, a quarta potência no que respeita a reservas de petróleo. A primeira acção, a “libertação” do Koweit, apenas serviu como desculpa para tentar retirar um ditador sangrento (que os americanos lá colocaram), que apoiava as acções terroristas dos países que falas, o Irão, a Líbia, a Síria, etc. Após a retirada de Saddam do país que invadiu, ficou uma questão por resolver, dado que o ditador ficou no mesmo sítio, os massacres a civís continuaram, mas o ouro negro esse era inatingível. De seguida, desencadeia-se sob a égide da ONU um embargo à exportação de petróleo iraquiano sob a designação “oil for food”. Foi uma excelente ocasião para manipular as reservas produzidas, bem como uma forma de controlar um senhor incontrolavel, que podia a seu bem querer inflenciar os preços do crude. Desta política, inúmeros civís morreram resultado da fome e falta de cuidados básicos, o país recrudesceu em fundamentalismo islâmico, enraizou o seu anti-americano e propagou a repressão interna. Com a segunda guerra do Iraque, parcamente embrulhada na bandeira da luta anti-terrorista, a oportunidade surge de novo mas desta vez contra um país muito debilitado após anos de embargo. O cinismo aumenta e o lucro também. Além de agora controlarem os campos de petróleo, os americanos conseguiram também passar a perna aos franceses, alemães e russo que tinham ficado com uma parceria após o primeiro conflito. Passam pois também a controlar as empresas que operam no território, empresas essas ligadas à exploração petrolífera. Uma delas, na posse de um dos secretários de estado, agora da geração George W. Bush, que é o senhor Dick Cheeney, ex-presidente da empresa Halliburton. Esta empresa entre muitas outras, são o garante que a economia americana funciona. Não é só a indústria de armamento que lucra com isto. E como dizes, o Irão é apetecível, mas não do ponto de vista humanitário, da democracia ou outra razão. É-o por estar no terceiro lugar do campeotato de reservas de petróleo e com isso controlar a seu belo prazer os volumes que saem do país, logo, ter como reféns nós, os consumidores de combustíveis do mundo “civilizado”. Só que estes têm acesso a armamento atómico...
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